Entrevista do Roque para a revista Red 32


O Homem do Sofazão - "São Roque"

O que se esconde entre as paredes de uma das casas noturnas mais comentadas de Porto Alegre? Quais são os mistérios e, principalmente, que desejos são realizados dentro dela?
O criador, administrador e maior entusiasta do polêmico Sofazão, a boate que promove troca de casais e que espalha aos quatro ventos que lá tudo é permitido, é, acreditem, umex-padre. Nascido em Bom Principio, divisa entre as áreas de colonização alemã e italiana no Rio Grande do Sul, no caminho de Caxias do Sul, Roque Rauber cursou teologia em Burgos,
na Espanha, e foi padre em paróquias tradicionais de Porto Alegre: Medianeira e Santa Terezinha. Roque tem 59 anos e é do tempo em que serezava missa em latim. Pai de cinco filhos e com muitos relacionamentos - depois de largar a batina, é claro - confirma: o sexo ainda é um ótimo negócio.
A Red 32 foi conhecer de perto o homem que mexe com as fantasias de muitos gaúchos. Roque Rauber nos recebeu em uma tarde de feriado católico, com a casa em pleno funcionamento. Casa aliás, que por muito tempo não teve o endereço divulgado. Hoje, o Sofazão tem nome e cara bem definidos. A rua e o número com mapa e tudo, estão no site da Internet. O endereço eletrônico? Calma! Você vai ficar sabendo no fim desta entrevista. O dono da famosa boate de swing conta que visitar o Sofazão nunca fez mal a ninguém e, como ditam os melhores gurus da administração, quem manda no seu negócio é o cliente.
Red 32: O senhor se apaixonou por uma mulher?
Roque: Não exatamente.
Red 32: Então foi por um homem?
Roque: Não, não... (risos) era mulher, mas naquela época já contavam uma piada que, quando eu começava a rezar Ave Maria, eu já estava logo entre as mulheres. Casualmente - eu disse casualmente - eu conheci uma moça que foi a minha primeira esposa. Ela me conhecia, mas eu não conhecia ela, que era minha paroquiana.
Red 32: Daí o senhor resolveu não ser mais padre?
Roque: Exatamente, naquela época eu já sentia que a realidade que eu imaginava era uma coisa e a vida era outra. Então eu preferi sair.
Red 32: Isso foi em 1970?
Roque: Sim. Ai eu comecei a luta. Saí com uma mão na frente e outra atrás. Eu trabalhei como vendedorzinho de livro, quando eu tive uma orientadora que já me conhecia, a tal paroquiana.
Red 32: Então veio o casamento? Casou e pensou que tinha perdido tempo?
Roque: Não é bem assim... (risos, esquivando-se da pergunta). Eu me juntei depois legalizei a minha situação. Até mesmo na igreja. Só que ela faleceu no nascimento do nosso terceiro filho.
Red 32: Antes do Sofazão o senhor trabalhou em outros lugares?
Roque: É... depois dos livros eu me estabeleci por 10 anos com remédios. Tive duas farmácias, inclusive me estabeleci com uma em Porto Mauá, que fica na fronteira com a Argentina. Lá eu conheci a minha segunda esposa.
Red 32: Como o senhor veio parar aqui?
Roque: Eu morei em Santa Rosa e depois vim mais para perto de Porto Alegre, para Montenegro. Convém ressaltar que, quando faleceu minha esposa, eu fiquei com um dilema: ou cuido das minhas farmácias, ou cuido das minhas crianças. Optei em cuidar das 3 crianças pequenas. Aí começam os altos e baixos. Em pouquíssimo tempo eu dei a volta por cima. Introduzi em Montenegro um sistema de vida noturna que não havia lá. Mas daí... essa argentina minha mulher extremamente ciumenta, doentiamente ciumenta, criou problemas e tivemos uns quebra-quebras. Logicamente eu me senti mal e veio nossa separação. Vim para Porto Alegre e conheci uma pessoa que tinha um agenciamento casamenteiro.
Red 32: O Senhor tem uma filha mulher?
Roque: Sim, ela já tem dezoito anos. Ela já veio aqui. Mas eu escondia muito até certa altura. Depois eu contei. É uma questão de evolução minha também. Até 95 eu tinha medo de aparecer. Eu não me sentia seguro. Depois de uma reportagem que saiu na Zero Hora, que foi muito comentada, eu ainda me escondia. Mas ai comecei a ver que eu não fazia nada de mal...
Red 32: Seus filhos nunca o criticaram?
Roque: Eles também evoluíram.
Red 32: Mas o senhor gostaria de ver sua filha aqui?
Roque: Ela vem aqui comigo. Com a casa fechada. Red 32: Mas digamos...freqüentado a casa? Roque: Não. É uma questão de respeito. Eu não gosto também do pai que traz o filho aqui. Isso acontece seguidamente. Acho uma falta de respeito. Eu respeito muito a família. Respeito demais. Eu posso afirmar com toda a tranqüilidade hoje que o Sofazão nunca fez mal a ninguém. Eu não tomei conhecimento nestes 6 ou 7 anos de funcionamento da casa de que um casal se separasse por causa do Sofazão. É bem ao contrário. Muitos casais que estiveram aqui estavam em crise e, com essa abertura, eles acabam se relacionando bem de novo.
Red 32: E o senhor casou de novo?
Roque: Tenho uma nova companheira.
Red 32: E ela, o senhor conheceu onde?
Roque: Ela eu conheci aqui. (risos)
Red 32: Hoje ela trabalha no Sofazão?
Roque: Sim. Ela me assessora. É minha secretária. Red 32: Por que o nome de Sofazão?
Roque: Bem. Tudo começou num sofá, que durou muito pouco. Um sofá bem reforçado que não houve jeito. Daí eu inventei um negócio diferente: uns bancos largos. Foi o meu que disse: Ah, um colchão dobrado vai ficar bem. Como eu tenho até hoje. Como chamar isso? Sofazão.
Red 32: Hoje como funciona?
Roque: Hoje nós temos até uma filial menor que já tem um ano.
Red 32: Onde?
Roque: Na Baltazar de Oliveira Garcia.
Red 32: Por que uma filial?
Roque: Por que nós temos muitas opções. De segunda à quinta de noite é lá. Quinta à tarde é aqui. Tem uma opção só para casais às sextas à tarde. São dois tipos de casais. Um tipo quer a companhia de outras pessoas, que não casais. E há os que querem só casais.
Red 32: Quantos funcionários o senhor tem hoje?
Roque
: Sem as meninas, são umas dez pessoas. Red 32: E com as meninas?
Roque: Umas trinta, mais ou menos. Essa é a nossa última evolução. Antes nós não tinhamos meninas suficientes. Antes a gente aceitava qualquer menina. Hoje não tem uma seleção.
Red 32: Quais são os requisitos?
Roque: Uma boa forma física. Digamos assim... (risos)
Red 32: O senhor não gosta de perguntas muito diretas?
Roque: (Risos e já desconversando)...é a boa forma física.
Red 32: Como acontece a cobrança?
Roque: Desculpe, mas isso eu não quero comentar muito.
Red 32: Mas tem preço fixo?
Roque: Isso eu não gosto de comentar. Eu nunca coloco os meus preços publicamente.
Red 32: Mas é caro ou barato?
Roque: Eu posso definir assim: em lugar nenhum do mundo o pessoal consegue uma festa desse nível com preço melhor.
Red 32: Hoje o senhor ganha dinheiro?
Roque: Digamos que sim.
Red 32: Mas a resposta é sim ou não?
Roque: Depois de vários anos a coisa engrenou.

Red 32
: Quando o senhor sentiu "esse é um negócio bom, tá dando certo"?
Roque: De 1995 pra cá.
Red 32: O senhor deixou de ser padre me 1970. O que aconteceu naquele ano?
Roque: Isto tudo foi uma evolução e não foi fácil. Eu me formei na Espanha super arcaica, super conservadora, no tempo do general Franco. Eu aprendi a rezar a missa em latim. A minha formação foi extremamente conservadora. Daí eu voltei para o Brasil.
Red 32: Mas o que aconteceu para o senhor largar a batina?
Roque: Foi simplesmente o contato com uma realidade que surpreendeu.
Red 32: Como assim?
Roque: Fazia agenciamentos. Agência de namoro onde abrangia tudo: encontros e casamentos.
Red 32: Conheceu ela como?
Roque: Através de um anúncio de jornal. Daí eu comecei a fazer agenciamento para casamento. Só que essa mulher era também muito ciumenta e eu tive problemas com ela. Mas o proprietário me convidou para voltar para o negócio e eu voltei sozinho para esta casa e recomecei aqui com agenciamento.
Red 32: Quando o senhor viu que sexo era o negócio?
Roque
: É que começaram a aparecer muitos casais já querendo relacionamento com outros casais. Mas nada acontecia aqui dentro ainda. Isso era em 1993. Em 94 é que eu inaugurei o Sofazão.

Red 32
: E como era no início?
Roque: Eu comecei com shows de sexo explícito. Uma coisa que eu mesmo me apavorei inicialmente. Automaticamente houve uma separação do agenciamento de casamentos para essa outra putaria. É que, como os shows, os casais ficavam muito excitados e me pediam uma suite para entrar vários casais juntos. Só que eu comecei a ter dificuldade para cobrar. Uns pagavam e outros não. Na terceira semana eu disse que eles poderiam entrar, mas não podiam fechar a porta. Este foi o grande impulso. Eu descobri que todo mundo gostava de olhar e havia gente que gostava de se exibir.
Red 32: Na realidade o senhor não planejou o Sofazão?
Roque: Não. Jamais. Eu fui levado pelo meu público. Sempre atendi o meu consumidor. O cliente é que manda na minha casa.
Red 32: O Seus filhos trabalham com o senhor?
Roque: Não. Só dão umas dicas. Eu respeito muito a vontade de cada um.
Red 32: Eles todos conhecem a casa?
Roque: Sim.
Red 32: Qual é a formula do sucesso do Sofazão?
Roque: Trabalho e respeito mútuo. É o respeito que eu tenho pelos meus clientes e pelos meus funcionários. Aqui, cada um vem com a sua fantasia e eu não me meto nesse caso. Aqui todo mundo encontra aquilo que procura.
Red 32: Agora o senhor é um conhecedor do mercado. Acha que Porto Alegre teria lugar para uma outra casa, algo que não existe ainda?
Roque: Eu vou dar uma dica. Há, talvez, uma lacuna em Porto Alegre...alguém poderia trabalhar com homossexualismo feminino.
Red 32: Por que o senhor acha que os casais vem a sua casa?
Roque: Em primeiro lugar eu transmito confiança para eles. Eles sabem que eu sou o líder deles. Eu enfrento qualquer situação por eles.
Red 32: Que tipo de situação?
Roque: Dar minha cara na televisão por eles, por exemplo. Infelizmente a nossa sociedade recrimina muito ainda essas pessoas. É pura hipocrísia. Ninguém critica. Dizem que é uma casa liberal que tem muita putaria, mas é isso que as pessoas querem.
Red 32: Como é a sua participação nas noites do Sofazão?
Roque: A minha participação é profissional.
Red 32: Nunca se envolveu?
Roque: (pensativo) Houve uma evolução. Sou o mestre de cerimônias. Quem dá toda a confiança para os meus clientes.
Red 32: E antigamente como o senhor participava?
Roque: É que eu não sabia como impor respeito.
Red 32: O senhor é o único a ter uma casa como essa em Porto Alegre?
Roque: Já pintaram mais de 20 casas do gênero, querendo me imitar. Todas elas fecharam.
Red 32: O senhor é um grande marketeiro? Por exemplo, essa história de não dar o endereço gera curiosidade?
Roque: É. Nós nunca damos o endereço. Inclusive nós selecionamos as pessoas via secretária eletrônica.
Red 32: Qual é o seu público-alvo?
Roque: A e B.
Red 32: Alguém que quer vir aqui e só olhar... o senhor deixa?
Roque: Até pouco tempo, eu olhava na cara da pessoa e dizia que ela era mentirosa. Só que ultimamente andei quebrando a cara. Tem gente, sobretudo que vem do interior, que está curiosa. Já é uma questão cultural, hoje, conhecer o Sofazão.
Red 32: E os casais que vem pela primeira vez?
Roque: É sempre com o mesmo objetivo. A primeira vez eles vem aqui e dizem que é só para olhar. Noventa e nove por cento vêm com essa intenção. Só que essa porcentagem vai baixar 60% na primeira visita.
Red 32: Sexo é um grande negócio?
Roque: Ainda é.
Red 32: Por que ainda?
Roque: Na virada do milênio ainda é. Só que daqui para frente eu não sei o que vai ser. Tudo pode acontecer. Red 32: Ninguém vem aqui forçado? Maridos e mulheres? Roque: Até 1997 vinha o casal e lá pelas tantas eu sentia que a mulher estava marginalizada, num canto chorando. Aí eu fazia um trabalho social de me juntar com ela, procurar o marido e tentar juntar os dois novamente. Agora não acontece mais isso.
Red 32: Um casal que vem aqui é uma questão de amor?
Roque: É. Às vezes a mulher, no início, acha um pouquinho violento. Mas ela vai acabar entendendo. As mulheres são mais lentas para entender esse lado.
Red 32: Os homens são mais liberais?
Roque: É...são mais inteligentes. É uma questão de evolução.
Red 32: E os planos para o futuro?
Roque: Vou abrir franquias em outros estados. É uma filosofia de vida que está se implantando. Hoje a minha casa, desculpe a pouca modéstia, é a casa noturna mais conhecida do Brasil. Por causa da página na Internet. O endereço é www.sofazão.com.br.
Red 32: Qual o diferencial da sua casa para as outras?
Roque: Aqui eu sempre digo, todo o mundo tem o direito a olhar com os olhinhos, com os dedinhos e com os beicinhos. Essa é a diferença fundamental.
Red 32: Qual a filosofia do Sofazão?
Roque: A filosofia é ajudar as pessoas a viverem bem.