Sofazão na
 

Roque Rauber

"O padre que virou dono de uma boate de troca de casais"

       A missa era o programa dominical preferido de Roque Rauber. Compenetrado, acompanhava a liturgia sem piscar os olhos. Aos sete anos decidiu ser padre. O menino deixou Bom Princípio, no Rio Grande do Sul, e assumiu a carreira eclesiástica. Trancafiou-se no seminário e cursou Teologia em Burgos, na Espanha. Ordenou-se sacerdote e perdeu a conta do número de casamentos e batizados que celebrou nas paróquias de Medianeira e Santa Terezinha, ambas em Porto Alegre.

       No início da década de 70, porém, a tentação dominou seu espírito. Desiludido com o rigor da Igreja Católica e sentindo-se culpado pela manifestação da libido sob a batina, largou o ministério sacerdotal. O homem que pretendia disseminar a pureza entre os fiéis subverteu o destino que havia traçado na infância. E mudou de ramo. Hoje em dia, sobrevive dos prazeres da carne. Aos 59 anos, ele é proprietário de uma boate na capital gaúcha. Um lugar reservado a encontros eróticos de casais, mas que também admite pessoas sozinhas. "Sigo semeando o bem, continuo fiel aos princípios éticos e morais. Tenho orgulho do que faço", afirma.

       Este empresário da noite sepultou sua vocação religiosa para erguer o Sofazão. Inaugurado em 1994, o santuário do Padre Roque é decorado com largos colchões em forma de sofá. É ali que os casais vivem cenas tórridas. Nas paredes, coraçõezinhos cravados pela flecha do cupido. Os recantos mais disputados são a gaiola envidraçada e o confessionário - de onde só se escutam murmúrios. A partir das 22 horas, os shows são protagonizados por homens e mulheres que, aos poucos, despem-se para vivenciar fantasias.

       Sexta e sábado, dias de maior movimento, a boate chega a receber 200 pessoas. O sacerdote é o mestre de cerimônias. É ele quem promove as brincadeiras e inflama os clientes. A seu lado, trabalhando como sua assessora, está Janete, sua mulher, É o terceiro casamento do padre. Os dois se conheceram lá. "Aqui as pessoas podem olhar com os olhinhos, com os dedinhos, com os beicinhos", mas há respeito garante. "Ninguém é obrigado a fazer nada, não é um vale tudo. A sinceridade é um traço que cultivo desde a época do seminário".

       Roque Rauber é um dos muitos sacerdotes brasileiros que largaram a batina para romper com os votos de castidade, pobreza e obediência ao Papa. No Brasil vivem cerca de 12,6 mil sacerdotes e outros 8 mil casados. Pelo Direito Canônico, no entanto, eles continuam sendo padres - a ordenação é um sacramento que não pode ser desfeito, com o batismo. Mas, ao virarem as costas para o juramentos cristãos, esses homens casaram, juntaram dinheiro e tornaram-se presas dos prazeres mundanos. Como simples homens, derraparam nos sete pecados capitais. "Jamais fiz o mal a alguém", completa o empresário, que, após o trabalho, de madrugada, deita-se na cama com Janete para alguns minutos de reflexão. "Nós somos só animais carnais".